Existe mais filosofia numa garrafa de vinho,
do que em todos os livros do mundo.
Louis Pasteur
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Regiões Vitivinícolas Portuguesas
02. TRÁS-OS-MONTES
No extremo Nordeste de Portugal, a norte da região do Douro, existe a região vitivinícola de Trás-os-Montes que se divide em três sub-regiões: Chaves, Valpaços e Planalto Mirandês.
O nome Trás-os-Montes refere-se à localização da região: situa-se para lá das serras do Marão e Alvão, a norte do rio Douro. É uma zona montanhosa e de solos essencialmente graníticos.
O clima é seco e muito quente no Verão e no Inverno, pelo contrário, as temperaturas atingem muitas vezes valores negativos.
Na sub-região de Chaves a vinha é plantada nas encostas de pequenos vales, onde correm os afluentes do rio Tâmega. A sub-região de Valpaços é rica em recursos hídricos e situa-se numa zona de planalto. No Planalto Mirandês é o rio Douro que influencia a viticultura.
As castas plantadas são praticamente comuns nas três sub-regiões. As castas tintas mais plantadas são a Trincadeira, Bastardo, Marufo, Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca. As castas brancas de maior expressão na região são a Síria, Fernão Pires, Gouveio, Malvasia Fina, Rabigato e Viosinho.
Os vinhos tintos desta região são geralmente frutados e levemente adstringentes. Os vinhos brancos são suaves e com aroma floral.
03. DOURO
Há um vinho que caracteriza imediatamente a região do Douro, o vinho do Porto. Este, embaixador dos vinhos portugueses, nasce em terras pobres e encostas escarpadas banhadas pelo rio Douro. Além do Porto, esta região é cada vez mais reconhecia pelos excelentes vinhos tintos e brancos.
A região do Douro localiza-se no Nordeste de Portugal, rodeada pelas serras do Marão e Montemuro. A área vitícola ocupa cerca de 40000 hectares, apesar da região se prolongar por cerca de 250000 hectares. O rio Douro e os seus afluentes, como por exemplo o Tua e o Corgo, correm em vales profundos e a maior parte das plantações são encaixadas nas bacias hidrográficas dos rios.
Os solos durienses são essencialmente compostos por xisto grauváquico embora, em algumas zonas, existam solos graníticos. Estes solos são particularmente difíceis de trabalhar e no Douro a dificuldade é agravada pela forte inclinação do terreno. Por outro lado, estes solos são benéficos para a longevidade das vinhas e permitem mostos mais concentrados de açúcar e cor.
O esforço do homem na conversão dos solos inóspitos em vinhas resultou na aplicação de três formas distintas de plantação: em socalcos, em patamares e ao alto. Os socalcos são frequentes em zonas cuja inclinação é elevada e assemelham-se a varandas separadas por muros de xisto grauváquico. Os patamares são constituídos por terraços construídos mecanicamente sem muros de suporte às terras, enquanto a plantação ao alto tem em conta a drenagem dos terrenos e o espaço necessário para a mecanização e movimentação das máquinas na vinha.
As vinhas dispõem-se do cimo dos vales profundos até à margem do rio e criam uma paisagem magnífica reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade em 2001. Ao admirável cenário, alia-se a excelência dos vinhos produzidos nas três sub-regiões do Douro: Baixo Corgo a oeste, Cima Corgo no centro e Douro Superior a leste.
A distribuição da área das vinhas não é uniforme. No Baixo Corgo a área de vinha ocupa cerca de 14000 hectares e o número de produtores é de quase 16000, isto é, em média cada produtor detém menos de um hectare de vinha. O Douro Superior é uma região mais desértica e o número de produtores é inferior ao número de hectares de vinha (quase 9000 hectares para pouco mais de 7900 produtores).
Em cada sub-região há ligeiras alterações climáticas, devido à altitude e à exposição solar nos vales profundos. De um modo geral, o clima é bastante seco e os conjuntos montanhosos oferecem às vinhas protecção contra os ventos. No Baixo Corgo o ar é mais húmido e fresco, pois recebe ainda alguma influência atlântica. Além disso, a pluviosidade é mais elevada, ajudando a fertilizar os solos e a aumentar a produção. No Cima Corgo, o clima é mediterrâneo e no Douro Superior chega mesmo a ser desértico (as temperaturas chegam aos 50ºC no Verão).
O melhor vinho do Porto é feito nas encostas mais áridas e próximas do rio, enquanto os vinhos de mesa são produzidos nas encostas mais frescas. A região do Baixo Corgo, outrora considerada a melhor região para a produção do vinho do Porto, revela melhores condições para a produção de vinho de mesa. Na zona do Pinhão (Cima Corgo) os bagos de uva atingem maior concentração de açúcar, sendo uma área considerada perfeita para a produção de vintages. Os vinhos brancos, espumantes e o generoso Moscatel provêm das regiões mais altas de Cima Corgo e Douro Superior.
As castas cultivadas na região não são célebres pela sua elevada produção, contudo têm uma história secular, já que algumas castas provêm da época da Ordem de Cister (Idade Média). Na segunda metade do século XX, iniciou-se o estudo e análise das castas plantadas e chegou-se à conclusão que as melhores castas para a produção de vinho do Douro e Porto são: a Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Aragonez (na região denominada de Tinta Roriz) e Tinto Cão. As novas quintas da região cultivam essencialmente estas castas, mas também outras muito importantes e com bastante expressão na região, como por exemplo, as castas Trincadeira e Souzão. A produção de vinhos brancos é essencialmente sustentada pela plantação de castas como a Malvasia Fina, Gouveio, Rabigato e Viosinho. Para a produção de Moscatel, planta-se a casta Moscatel Galego.
04. TÁVORA-VAROSA
A norte da região das Beiras e fazendo fronteira com a região do Douro, situa-se a Denominação de Origem Távora-Varosa. É uma região de pequena dimensão, todavia muito relevante na produção de espumantes. As castas brancas são as predominantes na região (Malvasia Fina, Cerceal, Gouveio, Chardonnay). As castas tintas mais plantadas são a Touriga Francesa, Tinta Barroca, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Pinot Noir. Apesar da produção da região ser liderada por espumantes, também são produzidos brancos frescos e tintos suaves.
05. DÃO
Nesta região as vinhas situam-se entre os 400 e os 700 metros de altitude e em solos onde predominam os pinheiros e as culturas de milho. A região do Dão, rodeada de serras que a protegem dos ventos, produz vinhos com elevada capacidade de envelhecimento em garrafa..
A zona do Dão situa-se na região da Beira Alta, no centro Norte de Portugal. As condições geográficas são excelentes para produção de vinhos: as serras do Caramulo, Montemuro, Buçaco e Estrela protegem as vinhas da influência de ventos. A região é extremamente montanhosa, contudo a altitude na zona sul é menos elevada. Os 20000 hectares de vinhas situam-se maioritariamente entre os 400 e 700 metros de altitude e desenvolvem-se em solos xistosos (na zona sul da região) ou graníticos de pouca profundidade. O clima no Dão sofre simultaneamente a influência do Atlântico e do Interior, por isso os Invernos são frios e chuvosos enquanto os Verões são quentes e secos.
Na Idade Média, a vinha foi essencialmente desenvolvida pelo clero, especialmente pelos monges de Cister. Era o clero que conhecia a maioria das práticas agrícolas e como exercia muita influência na população, conseguiu ocupar muitas terras com vinha e aumentar a produção vitícola. Todavia, foi a partir da segunda metade do século XIX, após as pragas do míldio e da filoxera, que a região conheceu um grande desenvolvimento. Em 1908, a área de produção de vinho foi delimitada, tornando-se na segunda região demarcada portuguesa.
O Dão é uma região com muitos produtores, onde cada um detém pequenas propriedades. Durante décadas, as uvas foram entregues às adegas cooperativas encarregadas da produção do vinho. O vinho era, posteriormente, vendido a retalho a grandes e médias empresas, que o engarrafavam e vendiam com as suas marcas.
Com a entrada de Portugal na CEE (1986) houve necessidade de alterar o sistema de produção e comercialização dos vinhos do Dão. Grande parte das empresas de fora da região que adquiriam vinho às adegas cooperativas locais, iniciaram as suas explorações na região e compraram terras para cultivo de vinha. Por outro lado, as cooperativas iniciaram um processo de modernização das adegas e começaram a comercializar marcas próprias, enquanto pequenos produtores da região decidiram começar a produzir os seus vinhos. As vinhas passaram também por um processo de reestruturação com a aplicação de novas técnicas vinícolas e escolha de castas apropriadas para a região.
As vinhas são constituídas por uma grande diversidade de castas, entre as quais a Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Tinta Roriz (nas variedades tintas) e Encruzado, Bical, Cercial, Malvasia Fina e Verdelho (nas variedades brancas). Os vinhos brancos são bastantes aromáticos, frutados e bastante equilibrados. Os tintos são bem encorpados, aromáticos e podem ganhar bastante complexidade após envelhecimento em garrafa.
06. BAIRRADA
A região da Bairrada é rica na produção de vinhos brancos e tintos, elaborados a partir de castas tradicionais, como a abundante Baga, e outras importadas para solos portugueses, como a internacional Cabernet Sauvignon.
É na Beira Litoral, entre Águeda e Coimbra, que se situa a região da Bairrada. A zona é muito próxima do mar, por isso o seu clima é tipicamente atlântico: Invernos amenos e chuvosos e Verões suavizados pelos efeitos dos ventos atlânticos.
A maior parte das explorações vinícolas são de pequena dimensão. A área ocupada pelas vinhas (maioritariamente em solos argilo-calcáricos ou arenosos) não ultrapassa os 10000 hectares.
A produção de vinho na região é sustentada por cooperativas, pequenas e médias empresas e pequenos produtores. Os pequenos produtores comercializam os chamados “vinhos de quinta” que se tornaram muito importantes na região nos últimos anos.
Foi no século XIX que a Bairrada se transformou numa região produtora de vinhos de qualidade, apesar da produção de vinho existir desde o século X. O cientista António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região em 1867. Vinte anos mais tarde, em 1887, fundou-se a Escola Prática de Viticultura da Bairrada destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho. O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890.
A casta Baga é a variedade tinta dominante na região e normalmente é plantada em solos argilosos. Os vinhos feitos a partir da casta Baga são carregados de cor e ricos em ácidos, contudo são bem equilibrados e têm elevada longevidade. Recentemente, foi permitido na região DOC da Bairrada plantar castas internacionais, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot e Pinot Noir que partilham os terrenos com outras castas nacionais como a Touriga Nacional ou a Tinta Roriz.
As castas brancas são plantadas nos solos arenosos da região, sendo a casta Fernão Pires (na região denominada por Maria Gomes) a mais plantada. Em quantidades mais reduzidas existem as castas Arinto, Rabo de Ovelha, Cercial e Chardonnay. Os brancos da região são delicados e aromáticos. Os espumantes da região são muito utilizados como bebidas aperitivas ou a acompanhar a cozinha local.
07. BEIRA INTERIOR
Os solos da região são de origem granítica e xistosa, fruto do relevo acidentado e montanhoso da região. Por influência das montanhas e da altitude os Verões são secos e quentes, por outro lado, os Invernos são muito frios e com neve.
As adegas cooperativas produzem quase todo o vinho da região, apesar de, cada vez mais, surgirem no mercado vinhos de pequenos e médios produtores. As castas tintas mais cultivadas na Denominação de Origem da Beira Interior são a Tinta Roriz, Bastardo, Marufo, Rufete e Touriga Nacional. As castas brancas com maior expressão na região são a Síria, Malvasia Fina, Arinto e Rabo de Ovelha. A região reúne boas condições para a produção de brancos frescos e aromáticos e tintos frutados e encorpados.
A Denominação de Origem de Lafões é uma pequena região no norte do Dão com poucos produtores. Apesar disso, os vinhos tintos da região são especialmente reconhecidos pela sua luminosidade enquanto os brancos são caracterizados por elevada acidez. As castas Amaral e Jaen são as mais utilizadas na produção de vinho tinto, enquanto as castas Arinto, Cercial e Rabo de Ovelha são as preferidas na produção de vinho branco.
08. LISBOA
Na região de Lisboa, região com longa história na viticultura nacional, a área de vinha é constituída pelas tradicionais castas portuguesas e pelas mais famosas castas internacionais. Aqui é produzida uma enorme variedade de vinhos, possível pela diversidade de relevos e microclimas concentrados em pequenas zonas da região.
A região de Lisboa, anteriormente conhecida por Estremadura, situa-se a noroeste de Lisboa numa área de cerca de 40 km. O clima é temperado em virtude da influência atlântica. Os Verões são frescos e os Invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias.
Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.
A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje “Vinho Regional Lisboa”. A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).
A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).
As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.
A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.
Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.
A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.
A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.
A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.
09. TEJO
Diversidade de solos e climas aliados a explorações vitivinícolas de grande dimensão com baixos custos de produção são as principais características do Ribatejo. Esta região fértil, outrora com elevadas produções que abasteciam o mercado interno e as colónias em África, produz vinhos brancos e tintos de qualidade a um preço extremamente competitivo.
No Ribatejo pratica-se uma agricultura extensiva: produtos hortícolas e frutícolas, arroz, oliveiras e vinha preenchem as vastas planícies ribatejanas. O rio Tejo é omnipresente na paisagem ribatejana e um dos responsáveis pelo clima, pelo solo e consequentemente, pela fertilidade da região. No Ribatejo o clima é mediterrânico, contudo sofre a influência do rio, por isso as estações do ano são amenas.
A Denominação de Origem do Ribatejo apresenta seis sub-regiões (Almeirim, Cartaxo, Chamusca, Coruche, Santarém e Tomar). Os solos variam consoante a proximidade do rio. O campo ou lezíria são zonas muito produtivas que se situam à beira-rio. Devido às inundações do Tejo é comum que as vinhas da zona fiquem, por vezes, completamente submersas. Na margem direita do Tejo, depois dos solos junto ao rio, situa-se a zona do bairro. É constituída por solos mais pobres e de origem calcária e argilosa, dispostos em terrenos mais irregulares entre montes e planícies. As principais plantações na zona do bairro são as oliveiras e as vinhas. Da margem esquerda do Tejo às regiões do sul próximas do Alentejo localiza-se a zona designada charneca. Aí, os solos são pouco produtivos e explora-se culturas que necessitam de pouca água, como por exemplo vinhas e sobreiros. Apesar de ser uma zona muito seca e apresentar as mais altas temperaturas do Ribatejo, as uvas têm melhores condições para a maturação do que em outras áreas da região.
O Ribatejo já foi famoso por produzir enormes quantidades de vinho que abasteciam especialmente os restaurantes e tabernas de Lisboa. Era uma região onde as grandes casas agrícolas pretendiam obter o máximo rendimento das vinhas e posteriormente produzir um vinho de pouca qualidade que seria vendido a granel. Nos últimos 15 anos, a região foi submetida a mudanças significativas tanto nos campos como nas adegas. Muitas vinhas foram transferidas da zona de campo para os solos pobres da charneca e do bairro: a produção baixou, contudo a qualidade melhorou significativamente.
A legislação para a região é pouco restrita e permitiu a introdução de castas portuguesas e estrangeiras. Os vinhos tintos DOC do Ribatejo provêm não só de castas tradicionais da região (Trincadeira ou Castelão) mas também de outras castas nobres, como a Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon ou Merlot. A casta branca mais plantada na região é a Fernão Pires, sendo praticamente indispensável na produção dos brancos ribatejanos. Por vezes, é lotada com outras castas típicas da região como a Arinto, Tália, Trincadeira das Pratas, Vital ou a internacional Chardonnay.
Na produção de vinho regional do Ribatejo é permitido a utilização de castas não admitidas na Denominação de Origem. Sendo assim, os agricultores podem fazer mais experiências com o solo, clima e castas para produzir vinhos originais. Aliás, o Ribatejo possui cerca de 22300 hectares de vinha, apesar de apenas 1850 serem certificados para a produção de vinho DOC.
Independentemente da designação DOC ou Regional, o terroir do Ribatejo sente-se em qualquer vinho da região: brancos muito frutados e de aromas tropicais ou florais e tintos jovens, aromáticos e de taninos suaves.
Além da reestruturação das vinhas da região, as adegas e os produtores da região modificaram e modernizaram as suas adegas. Os grandes tonéis e depósitos de cimento que produziram milhões de litros de vinho foram substituídos por cubas de aço inoxidável, sistemas de refrigeração e pipas de carvalho para o envelhecimento do vinho.
10. PENÍNSULA SETÚBAL
A Península de Setúbal é rodeada pelo oceano Atlântico e pelos rios Tejo e Sado. A região, situada a sul de Lisboa, é essencialmente marcada pelo turismo e pelas grandes explorações vitícolas. Desde as grandes explorações dominadas pela casta Castelão até ao Moscatel, um dos vinhos generosos nacionais, esta região sempre teve um lugar cimeiro na história dos vinhos portugueses.
A Península de Setúbal apresenta dois tipos de paisagens. Uma caracteriza-se pelo seu relevo mais acentuado com vinhas plantadas em solos argilo-calcários, entre os 100 e os 500 metros, aproveitando as encostas da Serra da Arrábida que as protegem do oceano Atlântico. A outra zona que representa, cerca de 80% do total da região, abrange terras planas ou com suaves ondulações, raramente ultrapassando os 150 m de altura. Estes terrenos são compostos por solos de areia, tornando-os bastante pobres e perfeitamente adaptados à produção de uvas de grande qualidade.
O clima da região é mediterrânico temperado com Verões quentes e secos e Invernos amenos e chuvosos. A humidade relativa média anual situa-se entre os 75% a 80%, o que reflecte a proximidade do mar.
A Península de Setúbal compreende duas Denominações de Origem (Palmela e Setúbal) e a designação de vinhos regionais Península de Setúbal. A maior parte dos vinhos da região utilizam a casta Castelão na sua composição. Esta é a casta tradicional da zona e a legislação para a produção de vinhos DO obriga à utilização de uma percentagem elevada de Castelão, por exemplo o DO de Palmela tem de ser constituído por 66,7% desta casta. Por vezes, a Castelão é misturada com a casta Alfrocheiro ou Trincadeira.
As castas brancas dominantes na região são a Fernão Pires, a Arinto e naturalmente, a Moscatel de Setúbal, que é utilizada em vinhos brancos e também nos vinhos generosos da Denominação de Origem de Setúbal.
As características mais marcantes dos novos vinhos da Península de Setúbal são os aromas florais nos brancos e os sabores suaves a especiarias e frutos silvestres nos tintos.
O vinho generoso de Setúbal elaborado a partir das castas Moscatel e Moscatel Roxo é um dos mais antigos e famosos vinhos mundiais.
O Moscatel de Setúbal é um vinho generoso de excelente qualidade, em especial quando envelhecido durante largos anos em barricas de carvalho. Trata-se de um vinho de aroma muito intenso, a flores de laranjeira, com sabor meloso e cheio, que evolui com a idade para notas de frutos secos, passas e café.
Produzidos em pequena quantidade, os vinhos licorosos elaborados a partir da casta Moscatel Roxo têm características semelhantes ao Moscatel de Setúbal, no entanto são mais finos e apresentam aromas e sabores muito complexos de laranja amarga, passas de uva, figos e avelãs.
11. ALENTEJO
O Alentejo é uma das maiores regiões vitivinícolas de Portugal, onde a vista se perde em extensas planícies que apenas são interrompidas por pequenos montes. Esta região quente e seca beneficiou de inúmeros investimentos no sector vitivinícola que se traduziu na produção de alguns dos melhores vinhos portugueses e consequentemente, no reconhecimento internacional dos vinhos alentejanos.
O Alentejo situa-se no sul de Portugal. É uma zona muito soalheira permitindo a perfeita maturação das uvas e onde as temperaturas são muito elevadas no Verão, tornando-se indispensável regar a vinha.
O tipo de relevo predominante na região é a planície, apesar da região de Portalegre sofrer a influência da serra de São Mamede. As vinhas são plantadas nas encostas íngremes da serra ou em grandes planícies e em solos muito heterogéneos de argila, granito, calcário ou xisto. Apesar disso, a pouca fertilidade dos solos é um elemento comum a todos os solos.
Grande parte dos 22000 hectares de vinha alentejana concentram-se nas oito sub-regiões da Denominação de Origem alentejana: Reguengos, Borba, Redondo, Vidigueira, Évora, Granja-Amareleja, Portalegre e Moura.
Na sub-região de Portalegre as vinhas são plantadas nas encostas graníticas da Serra de São Mamede, sofrendo a influência de um microclima (temperaturas são mais baixas devido à altitude). No centro do Alentejo situam-se as sub-regiões de Borba, Reguengos, Redondo e Évora que produzem vinhos bastantes similares. No sul alentejano (mais quente e seco) localizam-se as sub-regiões de Moura, Vidigueira e Granja-Amareleja.
No Alentejo há inúmeras castas plantadas, contudo umas são mais relevantes que outras (seja pela qualidade ou pela área plantada). As castas brancas mais importantes na região são a Roupeiro, a Antão Vaz e a Arinto. Em relação às castas tintas, salienta-se a importância da casta Trincadeira, Aragonez, Castelão e Alicante Bouschet (uma variedade francesa que se adaptou ao clima alentejano).
Os vinhos brancos DOC alentejanos são geralmente suaves, ligeiramente ácidos e apresentam aromas a frutos tropicais. Os tintos são encorpados, ricos em taninos e com aromas a frutos silvestres e vermelhos.
Além da produção nas sub-regiões DOC, o Alentejo apresenta uma elevada produção e variedade de vinho regional. Os produtores optam, muitas vezes, por esta designação oficial que permite a inclusão de outras castas para além das previstas na legislação de vinhos DOC. Assim, é possível encontrar vinhos regionais produzidos com Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Syrah ou Chardonnay.
Hoje, o Alentejo tem um enorme potencial na produção vitivinícola, todavia a região nem sempre contou com o apoio das políticas agrícolas nacionais. Devido às especificidades do clima, solos pobres e estrutura agrária (grandes propriedades) as principais produções do Alentejo sempre foram os cereais, a oliveira, o carvalho e o gado. Durante as primeiras décadas do século XX, o governo tencionava fazer do Alentejo o “celeiro” de Portugal, por isso a cultura do milho foi amplamente divulgada. O vinho tinha uma importância diminuta e destinava-se essencialmente ao consumo local. A vinificação era realizada segundo os processos tradicionais herdados dos Romanos e a fermentação realizava-se em grandes ânforas de barro.
Nos anos 50, foi criada a primeira adega cooperativa da região com o objectivo de controlar a produção vinícola. No entanto, foi apenas nos anos 80 que o Alentejo se submeteu à grande revolução na produção vitivinícola. Demonstrando uma enorme capacidade de organização, os produtores alentejanos constituíram inúmeras associações, revitalizaram as cooperativas e encorajaram os produtores privados. Assim, o sector vitivinícola ganhou outra relevância, justificando a demarcação oficial da região em 1988.
12. ALGARVE
Muitas vezes considerado o paraíso turístico de Portugal, o Algarve é uma região onde a área de vinha decresceu nos últimos anos. A indústria turística ocupou grande parte da área dos terrenos agrícolas e o vinho algarvio esteve próximo da extinção. Hoje, há de novo interesse vitivinícola na região e investe-se no desenvolvimento deste sector.
O Algarve situa-se no sul de Portugal. É uma região com um clima muito específico: está próximo do mar, contudo também sofre a influência da montanha (serras Espinhaço de Cão, Caldeirão e Monchique). As serras são muito importantes na agricultura algarvia, pois protegem as explorações de ventos provenientes do norte. Deste modo, o clima é quente, seco, com reduzidas amplitudes térmicas e com uma média de 3000 horas de sol por ano.
O desenvolvimento do turismo na região, foi pouco benéfico para a viticultura. As vinhas foram substituídas por hotéis, aldeamentos turísticos e campos de golfe.
Nos últimos anos, a região está a receber investimentos para revitalizar o sector vitivinícola. Iniciou-se a replantação de castas, a modernização das adegas e praticaram-se novos métodos de produção de vinhos.
A região do Algarve é constituída por quatro Denominações de Origem: Lagos, Lagoa, Portimão e Tavira. Contudo, a maior parte do vinho produzido insere-se na designação “vinho regional do Algarve”. As castas tradicionais da região são a Castelão e a Negra Mole (nas variedades tintas) e a Arinto e a Síria (nas variedades brancas). A casta Syrah foi umas das castas utilizadas na replantação das vinhas e demonstrou total adaptabilidade ao clima da região, por isso tem sido muito plantada pelos viticultores. Os vinhos algarvios são suaves e bastante frutados.
13. MADEIRA
Na ilha apelidada “pérola do Atlântico”, produz-se o vinho generoso “Madeira”. Este vinho possui uma longevidade fora do comum, aromas complexos e um sabor distintivo que ganhou notoriedade mundial.
A ilha da Madeira tem um clima tipicamente mediterrânico: temperaturas amenas durante todo o ano e baixas amplitudes térmicas, embora a humidade atmosférica seja sempre elevada. Os solos são de origem vulcânica e pouco férteis. O relevo da ilha é muito irregular, por isso as vinhas são plantadas nas encostas de origem vulcânica.
A Denominação de Origem Madeira é constituída por cerca de 450 hectares de vinha, onde são plantadas castas tintas e brancas. A casta Tinta Mole é a mais plantada na região, contudo também existem castas mais raras como a Sercial, a Boal, a Malvasia e Verdelho.
Os melhores vinhos da Madeira são aqueles que provêm das vinhas plantadas nas zonas de menor altitude. A casta Malvasia foi aquela que desde tempos seculares se destacou na produção do vinho generoso da Madeira. Além da casta Malvasia utilizam-se, na produção do Madeira, as castas Sercial, Boal e Verdelho que conferem quatro níveis de doçura ao vinho (doce, meio doce, meio seco e seco).
O vinho da Madeira começou a ser exportado para todo o mundo a partir do século XVIII. Os barris de vinho eram transportados em barcos, por isso ficavam sujeitos a inúmeras variações de temperatura até chegarem ao destino. Uma vez no destino, havia vinho que não sendo vendido, voltava para o destino de origem. Uma vez na Madeira, verificava-se que o vinho apresentava-se muito mais aromático e com novo sabor. Deste modo, a partir de 1730, os barris de Madeira começaram a ser enviados em longas viagens com o objectivo de apurar as qualidades do vinho.
14. AÇORES
As nove ilhas do arquipélago dos Açores apresentam condições climáticas pouco favoráveis à plantação de vinha. Contudo, a vinha tem uma longa tradição na região, pois é cultivada desde o século XV. Os Açores destacam-se na produção de vinho generoso da região do Pico e Graciosa. Na ilha Terceira produz-se um vinho branco leve e seco.
O arquipélago dos Açores, em pleno oceano Atlântico, é constituído por solos vulcânicos e tem um clima profundamente marítimo. As temperaturas são amenas durante todo o ano, apesar do elevado nível de precipitação e humidade atmosférica. Deste modo, as vinhas têm de ser plantadas em locais onde fiquem naturalmente abrigadas ou são protegidas por acção do Homem. Os currais, são muros de pedras onde se plantam as vinhas que desta forma ficam protegidas do vento e do ar salgado do mar.
As Denominações de Origem Graciosa, Biscoitos (na ilha Terceira) e Pico foram criadas em 1994. Na Graciosa produz-se vinho branco a partir das castas Verdelho, Arinto, Terrantez, Boal e Fernão Pires. Na ilha Terceira, na região de Biscoitos, as castas Verdelho, Arinto e Terrantez são utilizadas para elaborar vinho generoso. As mesmas castas são plantadas no Pico onde se produz o generoso da ilha do Pico, considerado o melhor vinho produzido na região.
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